quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Meu modo de existir é a dor.
Nesse estado mergulho e fujo da vida;
salto no abismo...
com a segurança de que vou para o mundo,
que crio na doçura do poema.

Vejo dolorosamente a beleza.
É belo sentir fundo,
intenso,
verdadeiro,
na carne,
vermelha.
- Alo, câmbio?
- Alô.
- Eu sei que estão me vendo, porque hoje eu nasci.
Nasci e sei que me viram nascendo,
porque surgi com membros adultos,
carnes tenras,
olhos atentos
e mente cansada.
Cansada de tanto ensaiar uma vida que existia somente em meu útero,
que me gerava
em uma gestação de eternidade,
de demora,
de sonhos não nutridos...
Não podiam crescer,
assim atrofiaram em suas múltiplas possibilidades.
Podiam tudo,
queriam o mundo,
mas se não nasciam não eram.

E hoje, na intensidade do verão, o rosa deu lugar ao nu e cru da realidade.
Ser real é aceitar os limites,
é buscar a diferença na pequenez de nossa existência,
é tornar gigante o ínfimo,
é aceitar a não identidade entre o fato e a narrativa do fato.
Fato: feto feito.

Nasci com a dor nas mãos;
no centro, nas palmas, na consciência de que não há mais como desnascer...

E a dor, olhando para meu rosto assustado,
teve vertigem de flor.
Mas como sagrar a minha primavera?
Como florescer portando a dor do mundo?

- Alo, câmbio, é aí que mora um coração? Como posso reencontrá-lo?
- Segue sendo...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Para aqueles que tem a intensidade na essência...
http://www.youtube.com/watch?v=mWIwX4ep2I4&feature=youtube_gdata_player

"Viver doeu tanto em mim,
que nasceu um beija-flor.
Tem asas tão ágeis e certeiras!
E o dom de apaziguar as tempestades...

Aprendeu a voar.
Teve medo do céu.
Mas viu que o azul era da cor do seu coração.

Bastou deixar o coração colorir todo o seu corpo...
Ficou tudo leve
E o voo existiu sem penar.

Pena?
Senti pena de mim!
Mas da pena surgiu a possibilidade de voar" (Dili).

"Entendi.
Meu coração não bate:
salta,
gira, 
dança o desassossego
da minha alma de criança.

Pensei que viver era uma ciranda.
Quis brincar de existir.
Mas outras crianças 
careciam de infância.

Abri o peito,
vesti as asas 
e fui brincar com as nuvens" (Dili).

sábado, 10 de novembro de 2012

NÃO SOU POETA
MAS ME PERMITI POETAR...
"Minha arte me pulsa.
Dentro, dentro, dentro...
Mas encontra o pulo mais distante,
aquele que me leve para o êxtase.

Poder viver do que crio pelas entranhas.
As entranhas que brilham
são da cor das minhas escolhas
que fiz agora e na eternidade que respirei.

Se entra é porque foi pra fora o meu olhar.
Se sai é porque um olhar não pode se estreitar.
Estreito sofre de anorexia de desejo.

Posso do conforto voar.
Posso do gostoso viver.
Porque é da minha sensação viva
que a arte surge.
É do sentir, 
da vibração da carne, 
que dou luz à forma bela da vida.
Pequena ou grande" (Dili)
"NÃO SOU NINGUÉM:
INACABADO
NÃO CAMINHO:
TRANSBORDO
NÃO ENVELHEÇO:
FLORESÇO
PORQUE A ROSA
NÃO DISSOCIA.
NASCE ENCOLHIDA,
MORRE EXPANDIDA..." (Dili)
Afectos 

"Apenas um olhar tímido,
uma admiração contida,
um desejo que não pode se expressar.
A ausência de explicação,
a afinidade latente,
mas a afirmação da verdade
diante da insistência da hipocrisia.

Se tenho a alma imoral,
não posso enganar o meu corpo,
que pulsa e anseia.

O silêncio deveria ser a sentença final.
Mas nasci para a voz." (Dili)
Desnascimento

"sofro de desnascimento crônico
venho de uma gestação eterna sem previsão de parto
to prenha de mim

ser em formação com tudo já formado
mas com a marca da falta
falta sempre
carece
isso me faz padecer

padeço pelo ausente 
sem nome
sem cara
sem tempo
sem nascimento

não pode parir o que falta
mas falta saber por que me ausentei de mim

quanto mais perto 
mais distante da resposta

a imensidão é que assegura
a segura
com o ventre aberto 
e o fruto maduro

cai, sai, vai...
de medo virei gesso
branco
límpido
belo
inquestionável

e a vida não brota no instante
o im-provável ficou na cavidade
quente
apertado
seguro

quem decidiu nascer
cresceu de despropósito
virou arco-íris
experimentou o azul

fico aqui
sem vida
desnascendo para a segurança de não morrer"
(Dili)
Reinaugurar o já inaugurado.
Retomar o que já foi presença e constância.
Porque escrever fertiliza a vida,
organiza o vivido,
significa a beleza,
eterniza o momento,
valida a existência.
Eis!!!