A cada dia que passa não sabemos ao certo o que acontece. As horas passam os dias também, e acabamos então, por nos deparar com o vazio. Analisar o que ocorre a nossa volta e em nossa vida não é algo tão simples, esse fato requer mais do que um pouquinho de atenção.
Vivemos em um mundo onde cada vez mais o individualismo prevalece, as amizades se tornam frias e são julgadas desnecessárias e rápidas demais para que possam significar alguma coisa, os sentimentos são totalmente banalizados, e a vida é trocada por qualquer coisa. Somos pessoas modernas, desenvolvidas, mas que não sabemos o que realmente somos e muito menos o significado do ser. Segundo Nietzsche, nos tornamos aquilo que somos. Se não sabemos a importância de nossa existência e nem o que estamos fazendo com ela nos tornamos um ponto no vazio, um nada. Acabamos por perder a liberdade sobre nós mesmos, com isso deixamos de notar e sentir coisas essenciais para nossa vida, e para uma possível compreensão de nossa existência, enquanto indivíduo. Os meios de comunicação, e de consumo tem tornado o ser humano cada vez mais dependente, não de outro ser humano, e sim das maquinas, dando a falsa impressão de que somos auto-suficientes, e nos dando o falso conceito sobre o mundo no qual realmente vivemos, e nos privando, muitas vezes da relação com o próximo.
Chegamos a um momento em que temos a necessidade de pessoas que consigam pensar por si e sobre si. Só podemos alcançar um grande êxito quando permanecemos fiéis a nós mesmo – Nietzsche. Ter a capacidade de se desenvolver, emocionalmente e criticamente a partir de nós mesmo, eis uma das tarefas e necessidade da qual julgo mais difícil que qualquer outra. Muitas vezes o falso saber é apenas o compreender as coisas que mais nos convém, o verdadeiro saber ao homem é mais difícil, pois este requer não só o conhecimento de si, como também o conhecimento do outro, é saber admitir que não exista apenas uma verdade, e sim muitas verdades, pois cada um é composto de muitas definições diferentes, e saber aceita-las e compreende-las, mesmo discordando, é dar um, dos muitos significados, a existência da razão humana.
A religião não consegue suprir a necessidade do individuo de perguntar e muito menos de conhecer-se. Pensar criticamente para a instituição religiosa é quebrar as correntes das barreiras do pensamento e se libertar para uma participação mais ativa na própria construção da historicidade, e da história do mundo. A religião diminuiu a vida como algo além do que se esta vivendo. As morais e as virtudes foram estipuladas mediante um conceito de vida que não sabemos ao certo se existe e se pode ser considerada como um modelo para a vida terrena.
Devido à grande tecnologia nos distanciamos uns dos outros, e acabamos por esquecer que muitas vezes a solução dos nossos problemas pode estar no simples contato com o outro, e que para a cura de nossa doença basta, muitas vezes, apenas um forte abraço. Porém ainda há algo no qual o contato com o próximo e com si mesmo, é uma das coisas primordiais, a dança. É na dança onde cada um de nós abre horizontes de vários modos, onde podemos deixar de representar e sermos o que gostaríamos de ser, onde devemos estar em profunda sintonia com o outro e conosco, para que possamos atingir uma plenitude e uma sensação única, que se torna inexplicável até para aqueles que dançam com a alma e o coração tão interligados que acabam se tornando um só. A dança não só nos eleva a um modo de espírito único, também nos entrega amizades verdadeiras e duradouras, felicidade, alegria, educação, saúde e vários outros sentimentos tão raros e tão preciosos no mundo atual. Nela se encontra a verdadeira mistura de toda existência humana. A dança é como o ser humano, um ponto sem fim na existência, com sua multiplicidade e possibilidades, que nunca estará acabada, e que poderá ter varias e indefinidas definições a partir do olhar de quem ver, ou de quem entrega a vida a ela para poder estar sempre criando mundos a partir da realidade que se apresenta. A dança jamais é instituída. Ela é construída a partir de vários pontos de vista, de varias verdades, e de diversos olhares. Dançar é ser de corpo, alma e coração. É acreditar que de alguma forma mudamos alguma coisa importante não só em nós mesmos como nos outros, a cada movimento que fazemos.
A arte de dançar pode ser considerada uma das soluções para a grande dor da existência humana, de não saber o que somos, para que estamos aqui, e qual a finalidade da vida. “Porque ela é movimento que liberta o ser humano e a vida é também movimento. Nada se identifica mais à existência do que a dança – Nietzsche”.
Gabrielle Barreto